Resenha do disco-livro "Adoniran em partitura - 12 canções inéditas"
por Alexandre Dias
Recebemos recentemente o primoroso disco-livro "Adoniran em partitura - 12 canções inéditas" do Conjunto João Rubinato, com textos de Tomás Bastian e Ayrton Mugnaini Jr. (Associação Cultural Cachuera!, 2017, 96 pp.).
Este trabalho resgata as 12 canções de Adoniran Barbosa que ainda permaneciam inéditas em gravação, e para isto foi feita uma rigorosa pesquisa em livros, jornais e revistas, partituras, gravações e até mesmo entrevistas com pessoas que tiveram contato com o sambista - ou seja, todas as fontes possíveis.
Esta pesquisa resultou em um levantamento de 12 partituras de Adoniran que jamais haviam sido gravadas. Uma boa parte destas músicas é de sua fase inicial, quando ele era conhecido como "o homem da bossa" no meio radiofônico paulista da década de 1930. Este é um Adoniran muito anterior àquele que conhecemos da época dos Demônios da Garoa. No início de sua carreira, Adoniran atuava não só como compositor, mas também como apresentador de rádio, cômico, diretor, e cantor (procurem ouvir no youtube sua gravação de "Agora pode chorar", feita em 1936 no estilo dos cantores da época). Adoniran parecia atuar como uma espécie de contraponto de Lamartine Babo em São Paulo, produzindo muitas músicas para o carnaval, por vezes imitando os sambas cariocas, porém já apontando para um samba genuinamente paulista, com elementos que se consolidariam anos depois em sua obra.
O livro faz um belo apanhado das primeiras décadas da carreira de Adoniran, e fornece o fac-símile de todas as partituras trabalhadas. Todas elas receberam novos arranjos de Tomás Bastian (que, além de assinar a coordenação de todo o projeto, também integra o Conjunto João Rubinato como violonista), e foram gravadas em um excelente CD que conta com a participação de seis cantores - Esterzinha de Souza, Carlinhos Vergueiro, Eduardo Gudin, Regina Cordovil, Osvaldinho da Cuíca, e Toinho Melodia - uma seleção muito especial, pois vários deles foram amigos e colegas de Adoniran.
A cereja no topo do bolo é uma "faixa-relíquia" do próprio Hervê Cordovil (parceiro de Adoniran) interpretando ao piano e cantando um samba inédito, que permaneceu guardado por 40 anos no acervo da família de Hervê (e na memória de sua filha, que também foi entrevistada para o projeto). Como esta música não existia em forma de partitura, e teve que ser transcrita de ouvido a partir da fita, os pesquisadores buscaram um dos últimos copistas à moda antiga ainda vivos, "o simpático Toniquinho Batera", que realiza este ofício há mais de 60 anos. De fato, o manuscrito de Toniquinho parece saído diretamente de um precioso acervo de rádio ou museu, mas foi produzido especialmente para o livro - uma atitude impressionante de amor e respeito pela obra do compositor.
Um elogio especial para o design cuidadoso do livro, que logo no verso da capa dura apresenta o CD encartado simulando perfeitamente um selo de disco 78-RPM. Também há fotos de São Paulo da primeira metade do século XX, e trechos de matérias encontradas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional (um divisor de águas para todos os pesquisadores de música), incluindo uma foto do trio "Mosqueteiros da Garoa", formado por Adoniran, Alvarenga e Ranchinho (!).
O disco-livro pode ser encomendado através do e-mail:
projetojoaorubinato@gmail.com
Confiram também o site do grupo:
http://conjuntojoaorubinato.blogspot.com.br/p/adoniran-em-partitura.html