Quantas músicas de Chiquinha Gonzaga você conhece?
- Diga 5 músicas de Chiquinha Gonzaga
- Ó abre alas, Lua branca, Atraente, Corta-jaca e.... eerrr
Os 169 anos de Chiquinha Gonzaga que comemoramos hoje, dia 17 de outubro, são uma boa oportunidade para revisitarmos esta questão: quanto realmente conhecemos de sua obra?
Chiquinha é um nome já consagrado na história brasileira (tanto musical quanto geral), e, poucos terão dúvida sobre quem ela foi, especialmente depois da minissérie de sucesso transmitida em 1999 pela Globo.
Porém, curiosamente, sua obra não acompanha a fama da compositora: o diálogo que abre este post poderia ser muito real, mesmo entre músicos.
A discografia de Chiquinha não é pequena – o site Instituto Memória Musical cataloga 559 gravações de suas músicas.
Porém as quatro músicas que citamos são emblemáticas, e ainda representam basicamente o que se conhece de sua obra: Ó abre alas é considerada a primeira marchinha de carnaval e perdura na tradição oral, Lua branca um clássico do repertório seresteiro, Atraente uma polca irresistível que foi gravada por diversos chorões e pianistas, e o Corta-jaca (“Gaúcho”, no título original) entrou para a história como a música que Nair de Teffé tocou no Palácio do Catete, escandalizando a sociedade da época (ou basicamente Ruy Barbosa).
Mas estas quatro representam apenas 1,5% das 264 músicas que Chiquinha Gonzaga compôs, isto sem contar as 62 peças teatrais que possuem com composições suas, algumas podendo conter literalmente dezenas de números diferentes.
Em 2011, tive o privilégio de revisar todos os manuscritos e primeiras edições de Chiquinha, gerando uma edição online gratuita disponível no endereço www.chiquinhagonzaga.com/acervo . Dividi a coordenação do Acervo Digital Chiquinha Gonzaga com Wandrei Braga, e as editorações foram feitas por Douglas Passoni. O patrocínio foi do edital Natura Musical, e depois conseguimos um patrocínio extra da EMC Corporation para resgatar 6 operetas completas (restam 56!).
Todas estas partituras foram consultadas no Instituto Moreira Salles (grande parceiro do projeto), que mantém o acervo original de Chiquinha Gonzaga desde 2005 por meio de um convênio firmado com a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
A maior parte das partituras era inédita em publicação ou estava fora de catálogo há muitas décadas. Portanto nossa sensação ao trabalhar com este vasto material era mais ou menos a de um arqueólogo desencavando um fóssil completo de um Austroposeidon magnificus.
Entre as milhares de páginas de partituras, imediatamente pudemos perceber a riqueza de gêneros que Chiquinha trabalhou: são 57 valsas (como Plangente, Yara, Ismênia, e Walkyria), 42 tangos brasileiros (como O Diabinho, Suspiro, Só na flauta, e o recém encontrado Julia), 34 polcas (como Gruta das flores, Musiciana, Ada e Dejanira), e uma infinidade de gêneros diversos como fados, habaneras, romances, baladas, marchas, peças sacras, serenatas, barcarolas, modinhas, gavotas, mazurcas, dobrados, quadrilhas, danças africanas e maxixes.
São peças que vão desde o popularesco mais cômico (como o Maxixe da Zeferina, que integra a burleta Forrobodó), até o erudito mais refinado, como por exemplo suas obras sacras - Chiquinha era profundamente religiosa, e algumas de suas obras refletem isto: Agnus Dei, Ave Maria, Coro de Virgens e Anjos, Prece a Nossa Senhora das Dores, e Prece à Virgem, todas ainda inéditas em gravação.
E embora algumas obras sejam relativamente simples (principalmente do ponto de vista harmônico), outras possuem grande complexidade pianística, como sua Fantasia, possivelmente sua música mais extensa, ou a polca Radiante, que requer verdadeiros malabarismos na mão direita, mostrando que Chiquinha provavelmente era uma grande pianista.
Outra coisa que nos chamou a atenção é que cerca de metade de todas estas 264 músicas possuem letra, ou seja, são canções, a maioria ainda inédita em sua versão cantada (todas as letras estão transcritas no site, nos textos referentes a cada música). Aliás, podemos dizer que um dos grandes fortes da Chiquinha está na originalidade de suas melodias.
Embora o acervo já esteja no ar há 5 anos, acreditamos que ele ainda seja subaproveitado. Houve sim alguns trabalhos importantes gravando peças inéditas, como o CD “Abram alas para Chiquinha Gonzaga”, da pianista Olinda Allessandrini (2014), o CD “Homenagem a Chiquinha Gonzaga” do Conjunto Subindo a Ladeira (2015), e eventuais vídeos que aparecem no youtube com gravações de obras raras. Porém a quantidade de obras chiquinianas ainda “aprisionadas” em partituras é imensa. Não temos números precisos para esta estatística, mas acreditamos que mais da metade da obra de Chiquinha Gonzaga permaneça inédita em gravação comercial.
Ficou curioso para conhecer mais sobre sua obra? Faça uma visita ao acervo! Cada música possui um texto escrito por Edinha Diniz, biografa da compositora, e são disponibilizadas partituras em duas versões: com e sem cifras.
Se você é músico, talvez encontre alguma obra feita sob medida para seu recital ou show. Caso não faça ideia de como começar a procurar, no rodapé da página há um algoritmo que lista 5 sugestões de músicas a cada novo acesso da página.
Ajude a ampliar o alcance da obra de Chiquinha Gonzaga e divulgue para amigos!
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Alexandre Dias