ACERVO DE FRANK JUSTO ACKER

Há cerca de um ano começamos a trabalhar em um dos maiores acervos da música brasileira e agora iniciamos sua divulgação! Trata-se do acervo de Frank Justo Acker (1921-1999), um profissional de gravação da mais alta importância na história do Brasil, que registrou inúmeros concertos entre as décadas de 1960 e 1990, e que também gravou LPs de diversos músicos. Seu acervo consiste de mais de 1.400 fitas-rolo, mantidas por sua filha Clara Acker, que aceitou que o IPB iniciasse uma digitalização sistemática de todo o material. Leia mais a respeito de Frank neste verbete publicado recentemente na enciclopédia do IPB.


Frank Justo Acker

O acervo, além de gigantesco, é complexo. Às vezes o programa impresso do concerto consta dentro da caixa junto com a fita. Às vezes há apenas algumas anotações no verso da caixa, e às vezes não há nenhuma informação. Cada caso exige uma estratégia diferente, sendo necessário recorrer-se a outros acervos, programas de concerto, matérias de jornal, e até mesmo aos próprios intérpretes, quando possível, para que tenhamos informações bastante precisas sobre cada gravação.

Frank não gravava de maneira puramente técnica, mas sim com um ouvido artístico, intuitivo e certeiro. Em suas gravações há algo de inexplicável, um calor humano, um som tridimensional, que faz com que nos sintamos dentro da Sala Cecília Meireles, local onde foram feitas a maioria das gravações. Outra característica sua era a de direcionar suas gravações para o repertório brasileiro sempre que possível, priorizando concertos e discos com este enfoque.

As fitas estão sendo todas digitalizadas primorosamente por Adalberto Carvalho para o IPB. Quando necessário, as rotações são ajustadas com base em uma minuciosa comparação das tonalidades de cada peça com as respectivas partituras e outras gravações.

Hoje, dia 26 de julho de 2019, Frank faria 98 anos. Além disso, neste ano completam-se 20 anos de seu falecimento. E, por sugestão de Clara Acker, esta data foi escolhida para a divulgação destas gravações inéditas, que trarão uma excelente visão sobre a música de concerto da segunda metade do século XX.

Alguns exemplos do que já foi digitalizado:

- Recitais solo inéditos dos pianistas Nelson Freire, Arthur Moreira Lima, Roberto Szidon, João Carlos Martins e Antonio Guedes Barbosa na década de 1960; Egberto Gismonti acompanhando Odette Ernest Dias ao violão em 1973; Cristina Ortiz nas Variações sérias de Mendelssohn; gravações de Bienais de Brasileiras de Música Contemporânea que não foram lançadas em discos; Antonio Menezes no Concerto de Schumann para violoncelo; Sonia Maria Vieira interpretando o raro ciclo “Diálogos” de José Siqueira, para piano solo; Arnaldo Rebello interpretando obras de Maria Luisa Priolli; o Quarteto da Guanabara, e o Quarteto de Cordas da UnB. Há também gravações das orquestras Sinfônica Nacional, Sinfônica Brasileira, Sinfônica do TMRJ, Sinfônica da Escola de Música da UFRJ, por regentes como Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Roberto Duarte, Souza Lima, José Siqueira, Simon Blech, Norton Morozowicz, entre outros, e Cacilda Borges Barbosa, como regente de coro. Uma gravação especialmente emblemática é um concerto regido por Eleazar de Carvalho em 1976, em que ele apresenta quatro compositores brasileiros de diferentes de períodos, incluindo uma interpretação visceral do Choros No.10, e a estreia mundial de Aurora, de Almeida Prado, com o próprio compositor ao piano. Também constam gravações de festivais como por exemplo o Festival Villa-Lobos e o Festival de Música de Blumenal.

Serão divulgadas 2 fitas por semana no canal do IPB no youtube, às terças e sextas. E para dar início à série, escolhemos o recital de despedida do violonista Turíbio Santos na Sala Cecília Meireles, antes de partir para a Europa em 1969, interpretando diversas obras importantes do repertório violonístico universal, de compositores como Barrios, Villa-Lobos, Turina, Sor e Dowland. Esta gravação é um belo exemplo da sonoridade única que Frank conseguia capturar em suas gravações.

Agradecimentos: a Clara Acker, filha de Frank Justo Acker, por confiar ao IPB a honra de digitalizar este inacreditável acervo; a Beth Ernest Dias, que gentilmente intermediou o contato com Clara Acker; a Adalberto Carvalho, que tem enfrentado com bravura o enorme desafio de digitalizar este rico material; a Wellington Bujokas, que financiou parte das digitalizações; a Gustavo de Sá, que auxiliou na identificação de parte das fitas, a Danilo Ávila, que escreveu o detalhado verbete sobre Frank Justo Acker para a enciclopédia online do IPB; e aos assinantes do IPB, que tornam todo este trabalho possível.

Torne-se um assinante do IPB e ajude-nos a digitalizar mais gravações como esta!

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