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Rio de Janeiro
Atualizado em 14.09.2017
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Arthur Moreira Lima

N. 16 de Julho de 1940
Por André Pédico

Nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de julho de 1940. Iniciou seus estudos ainda criança, e, a partir de 1948, foi aluno da professora Lúcia Branco.

Seu primeiro recital profissional aconteceu no ano seguinte, no Theatro da Paz, em Belém do Pará.

Ainda criança, venceu importantes concursos no Brasil, tais como o Jovens Solistas, promovido pela Orquestra Sinfônica Brasileira, nas edições de 1949 e 1952.

Em 1956, venceu o Concurso promovido pela Rádio Ministério da Educação, e obteve como prêmio uma Bolsa de Estudos em Paris. Mesmo com o prêmio, Moreira Lima decidiu adiar sua ida à Europa e continuar seus estudos no Colégio Militar. Entretanto, no ano seguinte, após ser finalista do Primeiro Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, o pianista foi pessoalmente convidado por Marguerite Long (1874-1966) para estudar com ela na França. Esse importante concurso também trouxe oportunidades de estudo no exterior para os pianistas Nelson Freire e Fernando Lopes.

Em Paris, obteve o primeiro prêmio da Academia Marguerite Long e a Menção Honrosa no Concurso Internacional Marguerite-Long – Jacques Thibaud, em 1960.

Por sua atuação na Terceira Edição do Concurso Internacional de Piano do Rio de Janeiro, obteve uma bolsa de estudos para a Juilliard School, de Nova York. Contudo, por considerar a Rússia como uma melhor oportunidade de aperfeiçoamento, decidiu se candidatar a uma vaga no Conservatório Tchaikovsky, em Moscou. Com o apoio artístico dos professores daquela instituição, tais como Yacof Zak e Lev Oborin, Arthur obteve uma bolsa de estudos por cinco anos na Rússia, onde foi orientado por Rudolf Kehrer.

Em 1965, aluno do Conservatório em Moscou, obteve projeção internacional ao conquistar o segundo lugar no Concurso Internacional Chopin, em Varsóvia. Na época, recebeu intensa aclamação da crítica e do público presentes.

Já nesse período, começou a intercalar as obras de Ernesto Nazareth em meio aos seus programas eruditos, como prova o histórico recital realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1966.

Ao diplomar-se no Conservatório Tchaikovsky foi convidado por Rudolph Kehrer para ser seu assistente de cátedra, função que ocupou por três anos. Ainda nesse período, obteve mais duas premiações em importantes concursos internacionais: o terceiro lugar em Leeds, 1969 e o terceiro lugar no Concurso Tchaikovsky, em 1970.

Na década de 70, dedicou-se a uma intensa carreira internacional, solicitado por alguns dos mais importantes corpos orquestrais. Entre as orquestras e regentes com quem se apresentou, destacam-se as filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia, as sinfônicas de Berlim, Viena e Praga, além das orquestras da BBC de Londres e a Nacional da França. Tocou sob a direção de Kurt Sanderling (Berlim), Kirill Kondrashin (Moscou), Mariss Jansons (Leningrado), Serge Baudo (RTV França), Jesus Lopez-Cobos (Munique), Sir Charles Groves (Liverpool), e Rudolf Barshai (Moscou), entre outros.

Em 1975, gravou um álbum duplo com obras de Ernesto Nazareth para a gravadora Marcus Pereira, um importante registro que contribuiu para o resgate da obra do compositor. A partir do final da década de 70, residindo novamente no Brasil, intensificou seu trabalho como intérprete de música popular, consolidando-se como um dos mais versáteis instrumentistas do país. Entre os artistas e grupos com quem trabalhou, destacam-se o conjunto Época de Ouro, grupo fundado por Jacob do Bandolim, o cantor e violeiro Elomar Figueira Mello, e os maestros e multi-instrumentistas Paulo Moura e Heraldo do Monte.

Na década de 80, suas gravações compreendiam alguns dos mais representativos concertos do repertório pianístico, tais como concertos de Chopin, Brahms, Mozart e Rachmaninoff. A essa lista, juntar-se-iam registros de obras de Ernesto Nazareth, Radamés Gnattali, Astor Piazzolla, Villa-Lobos, Brasílio Itiberê, Francisco Mignone, entre tantos outros, em uma expressiva e versátil gama de estilos.

Na TV, Arthur apresentou o programa “Toque de Classe”, da TV Manchete, em que recebeu convidados como Moreira da Silva, João Nogueira, Ney Matogrosso, Nélson Gonçalves, Raphael Rabello, Milton Nascimento, em um importante esforço de divulgação da música brasileira.

A partir da década de 1990, passou a se apresentar mais frequentemente em espaços públicos para a população que não tinha acesso às salas de concertos e espetáculos. Tocou no Morro da Mangueira e na Favela da Rocinha, eventos que antecipariam as longas tournées a bordo do caminhão-teatro, realizadas a partir de 2003, por todo o Brasil.

Em 1998, Arthur disponibilizou quase todas as suas gravações em bancas de jornais, através da Editora Caras. A coleção, que era acompanhada por fascículos escritos por Eric Nepomuceno, disponibilizou ao público 41 CDs de diversos autores. Tal lançamento foi um grande sucesso, consolidando-se como mais uma prova do trabalho do pianista como agente cultural no país.

Na década seguinte, Arthur passou a se dedicar intensamente ao projeto do caminhão-teatro, Um piano pela Estrada, com o qual tem percorrido centenas de cidades em todas as regiões do Brasil. Mais de 500 concertos já foram realizados, trazendo, pela primeira vez, um recital de piano a regiões afastadas e com pouco acesso à cultura. Ao realizar tais eventos gratuitamente à população, o pianista novamente cristaliza sua posição como um dos mais importantes artistas brasileiros, por cujos dedos a obra de dezenas de compositores pôde encontrar seus ouvintes.