naturalidade
Fortaleza (CE)
Atualizado em 14.01.2018
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Aloysio de Alencar Pinto

N. 3 de Fevereiro de 1911
F. 6 de Outubro de 2007
Por Georges Frederic Mirault Pinto

Aloysio de Alencar Pinto, pianista, compositor e folclorista, nasceu em Fortaleza (CE) em 1911. Em 1932, bacharelou-se em Direito pela Universidade do Ceará. Em 1936, concluiu o curso de piano do então Instituto Nacional de Música com Medalha de Ouro.

Foi aluno de Godofredo Leão Veloso, Barrozo Netto e Nicolai Orloff, tendo estudado no Conservatoire Américain no Palais de Fontainebleau, onde foi aluno de Robert Casadesus, Marguerite Long e Nadia Boulanger, recebendo no fim do curso o Grande Prêmio “Mention d’Honneur du Concours de Virtuosité”, láurea outorgada alguns anos antes ao compositor norte-americano Aaron Copland.

Apresentou-se como intérprete em quase todas as capitais brasileiras, na Argentina, Uruguai, Portugal, Espanha e França. Participou de grandes tournées com a Orquestra Sinfônica de São Paulo, sob a regência de Camargo Guarnieri nos anos 1940.

Como pedagogo e professor de seu instrumento, teve oportunidade de orientar os estudos de eminentes pianistas brasileiras, tais como Jacques Klein, Gerardo Parente, Maria da Penha e Irany Leme.

Como compositor, notabilizou-se pelo Ciclo de Canções Afro-Brasileiras, Cantos Indígenas, Acalantos Brasileiros, Suíte sul-americana (piano), Suíte pan-americana (piano), Valsas em estilo popular (piano), Toccata (piano), Suíte brasileira (dois pianos), o balé Sarau de sinhá (piano a quatro mãos, com transcrição para orquestra sinfônica), Suíte TV-SET Series (piano a quatro mãos), Ciclo “O Natal Brasileiro” (coro misto), Gloria in Excelsis (soprano e orquestra), Ponteios para violão, Bumba meu boi (balé), além de numerosas peças avulsas para piano solo e música de câmara. Realizou também importantes transcrições de obras de Bach e Handel para seu instrumento.

Participou como membro do júri de incontáveis concursos de piano, canto e solistas para a OSB e para o MEC, como o Concurso de Piano da Bahia, o Concurso de Piano Villa-Lobos (1981), Concurso Vera Janacopulos, Festival Internacional da Canção.

Estas obras mereceram execuções de renomeados artistas patrícios e estrangeiros, bem como de conjuntos corais e orquestrais nacionais e de vários países, como os cantores Aurora Serna, Maura Moreira, Maria Lúcia Godoy, Maria d’Apparecida, Alice Ribeiro, Hermelindo Castello Branco, Roberto Galeno, Paulo Fortes, Alexandre Trick, Maria da Gloria Capanema e Paulo Barcellos, os pianistas Felix Lavilla, Eric Werba, Arnaldo Rebello, Radamés Gnattali, Gerardo Parente, Alberto Kaplan, Alexandre Dias, Irany Leme, Sônia Maria Vieira, Maria Helena de Andrade e Maria Teresa Madeira, o oboísta Harold Emert, os regentes Henrique Morelenbaum, Isaac Karabtchevsky, Borislav Tschornbow e Roberto Ricardo Duarte, e os conjuntos Coro da Universidade Federal Fluminense, Coro da Rádio MEC, Madrigal Renascentista, Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Woods Hole Ensemble e Maryland University Choir.

Produziu também música incidental para teatro e cinema, para peças de Molière (As travessuras de Scapino), Francisco Pereira da Silva (O chão dos penitentes, O vaso suspirado, e Chapéu de sebo), e Guilherme Figueiredo (Maria da Ponte, A menina sem nome), e para o filme brasileiro A pele do bicho ou Amor e traição, de Pedro Camargo.

Estas obras foram gravadas em pelo menos 20 LPs e CDs, no país e no exterior. Na qualidade de intérprete, mencionem-se, além da clássica gravação para a RCA Victor americana de sua Valsa lenta e do Tango brasileiro de Alexandre Levy, os discos: 12 Valsas de Ernesto Nazareth, patrocinado pela SOARMEC, e Os pianeiros.

Foi membro titular da Academia Brasileira de Música e da Academia Nacional de Música. Membro dos conselhos do Museu da Imagem e do Som (Música Erudita e Música Popular), organizou e dirigiu a coleção de depoimentos ao vivo de um sem número de músicos brasileiros, como Francisco Mignone, Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro. No ano de 1965, sob os auspícios do Ministério das Relações Exteriores, levou a Paris o Conjunto de Ballet Folclórico do Brasil que se apresentou, com grande sucesso, no Théâtre Sarah Bernhardt. Pertenceu, como membro efetivo, à Comissão Nacional de Música do IBECC (UNESCO).

Durante muitos anos, foi Diretor de Programação e Programador Cultural da Rádio MEC, como programas como Estampas Brasileiras, com Haroldo Costa e Mosaico Panamericano, ambos ligados à difusão de música.

Quando de sua passagem pela então Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, dirigiu a série de documentários de mais de 40 discos Documentos Sonoros do Folclore Brasileiro, bem como participou de pesquisas de campo, principalmente no seu estado natal, como a Romarias de Canidé, da Série Romarias Brasileiras, realizada com o apoio do Instituto Nacional do Folclore e da Embaixada da Itália no Brasil e o LP A Arte da Cantoria, que reúne belíssima antologia sobre cantadores do Nordeste Brasileiro.  Mencione-se sua viagem a Almofala, nos anos 1970, cujo levantamento histórico ensejou, por parte do IPHAN, uma ação vigorosa pela recuperação daquela igreja de arquitetura colonial tomada pelas dunas.

Escreveu artigos musicológicos, sendo notáveis seus estudos sobre Melodia do Nordeste e suas Constâncias Modais e os artigos publicados sobre Ernesto Nazareth, José Maurício Nunes Garcia, Villa-Lobos, Francisco Mignone, e Darius Milhaud. Permanecem inéditos alguns estudos sobre Ruy Barbosa e a Música, Antônio de Sá Pereira, uma investigação a respeito dos professores de Ernesto Nazareth, pesquisas referentes ao Tango, à Habanera, e à Valsa brasileira, e o artigo O amigo brasileiro de Liszt. Profundamente ligado ao cinema, tendo mantido relações de amizade com Orson Welles, quando da estada do cineasta na Fortaleza dos anos 1940, foi o consultor brasileiro na finalização do filme It’s all true, sobre fotogramas da obra inacabada daquele diretor.

Recebeu da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) o título de Doctor Honoris Causa pelo conjunto de sua obra. A Fundação Casa de Ruy Barbosa conferiu-lhe a Medalha Ruy Barbosa pela sua contribuição à cultura brasileira. A Academia de Letras do Ceará outorgou-lhe a Medalha Barão de Studart. A cidade de Paris conferiu-lhe a Medaille de la Ville de Paris. Aloysio de Alencar Pinto “encantou-se” em 6 de outubro de 2007.